Há dias grandes.
Dias que têm mais de 24h, porque têm o tamanho da Memória que deles fazemos e que neles fazemos.
Há quase 9 anos, aceitei o desafio de ser catequista.
Sabia que ia gostar, só não sabia que ia ser tanto.
Também, como poderia saber, se ainda não conhecia os "meus meninos"?
Houve dias difíceis, que não é por hoje ser dia de festa que não recordo que houve dias difíceis. Houve lágrimas (e nem todas foram de alegria). Houve dúvidas. Houve medo. Houve alturas em que desistir parecia a única solução possível. Houve dias em que a impotência era maior do que tudo.
Esses dias, cada um desses dias, foi importante.
É quando já não podemos fazer mais nada, quando sentimos que já fizemos o melhor que sabíamos, quando já inventámos os jogos todos, quando já usámos cores e preto e branco, quando já mostrámos cara feia e fizemos festas, quando já parece que não há mais nada a fazer, é que Deus fica com o campo todo livre.
É nessas alturas que percebemos que não tem muito a ver com o que fazemos e até com como o fazemos. Menos ainda tem a ver com o que dizemos. Não tem a ver com o espaço em que nos reunimos. Tem a ver com quem somos e com quem eles são, mas acima de tudo tem a ver com quem Deus é.
Não se descobre Deus, acreditamos nós como cristãos, enquanto não se descobrir Jesus. À medida que vamos descobrindo Jesus de Nazaré, o Crucificado-Ressuscitado, queremos imitá-lo. Quando o imitamos, começamos a anunciar. E por aí vai...
É por isso que eu digo, na gravação que a Sandra hoje aqui partilhou, que o que estes 9 anos transformaram em mim foi a minha tolerância comigo e com os outros. Não é algo que venha de série comigo. Não é daquelas características inatas.
Eu gosto "das coisas bem feitas", de "tudo certinho".
Só que aprendi, à custa de umas quantas cabeçadas, que não é assim que funciona. Mais, que não é aí, no "reino do tudo muito alinhadinho e como deve ser" que Deus gosta de habitar. Às vezes, Ele bem tem de ir lá parar, mas é só para nos ir tirar daí.
Deus foi-me ensinando a tolerância com os irmãos (num caminho ainda a fazer-se, claro), mas ainda tem muito a ensinar-me sobre tolerância comigo.
Aprender a viver tolerantemente e aceitar a impotência do Amor não é coisa para um dia.
É para uma vida inteira e não chega.
Hoje, vi os "meus meninos" dizerem publicamente que crêem na Fé de Jesus, se querem fazer construtores da Sua Esperança e que tal só faz sentido no Amor.
Vi-o, depois de semanas de corrida, para fazer Memória do caminho que fizemos juntos. Descobri que sou mais feliz do que pensava e que, por isso, tenho de ser mais grata ainda.
Eles cresceram tanto! E eu cresci tanto com eles e com a Su!
Hoje, é um dia grande, mas, para mim, não tão grande como o do Retiro deles (que já aqui partilhei), nem tão grande como a Festa do Envio, em que, em Comunidade, celebrámos o compromisso deles com aqueles que os viram crescer e o compromisso desses com eles.
Ver, como eu vi há uma semana, dezenas de pessoas directamente envolvidas na preparação de uma Festa; ver, como eu vi, o milagre da abundância a acontecer na partilha dos dons (com o artesanato que fizemos, com as roupas, os livros, as louças, as tampinhas, as cruzetas que se recolheram, que TANTOS trouxeram de casa), só pode fazer de mim uma mulher MUITO feliz. Obrigada, Comunidade, por terem feito desse dia verdadeiro anúncio, para os "meus meninos".
Claro que, desculpem-me por isso, a minha gratidão é ainda maior aos meus pais e à minha avó, por terem aguentado todas as corridas e me terem segurado as pontas para que eu pudesse concretizar umas quantas ideias. Quando digo que é importante a família na caminhada, falo do que sei, felizmente.
Obviamente, tenho de agradecer aos "meus meninos":
Acima de tudo, obrigada a Deus, por se ter feito sempre presente e por eu O ver em tanta gente linda
Amo a Deus, logo amo os irmãos que vai colocando na minha Vida.
Amo os irmãos e, neles, vou aprendendo a amar a Deus.
celebrar aqui... ao entardecer
quaresma 2014 - caminhada de oração
semanário do 1.º volume (2013/2014)