Ontem, alguém de quem gosto muito mandou-me uma leitura que eu já conhecia, com convite a ressaboreá-la.
"E sucedeu que, estando o rei David em sua casa, e tendo o SENHOR lhe dado descanso de todos os seus inimigos em redor,
Disse o rei ao profeta Natã: Eis que eu moro em casa de cedro, e a arca de Deus mora dentro de cortinas.
E disse Natã ao rei: Vai, e faz tudo quanto está no teu coração; porque o Senhor é contigo.
Porém sucedeu naquela mesma noite, que a palavra do Senhor veio a Natã, dizendo:
Vai, e diz a meu servo David: Assim diz o Senhor: Edificar-me-ás tu uma casa para minha habitação?
Porque em casa nenhuma habitei desde o dia em que fiz subir os filhos de Israel do Egipto até ao dia de hoje; mas andei em tenda e em tabernáculo.
E em todo o lugar em que andei com todos os filhos de Israel, falei porventura alguma palavra a alguma das tribos de Israel, a quem mandei apascentar o meu povo de Israel, dizendo: Por que não me edificais uma casa de cedro?
Agora, pois, assim dirás ao meu servo David: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eu te tomei da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses o soberano sobre o meu povo, sobre Israel.
E fui contigo, por onde quer que foste, e destruí a teus inimigos diante de ti; e fiz grande o teu nome, como o nome dos grandes que há na terra.
E prepararei lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei, para que habite no seu lugar, e não mais seja removido, e nunca mais os filhos da perversidade o aflijam, como dantes,
E desde o dia em que mandei que houvesse juízes sobre o meu povo Israel; a ti, porém, te dei descanso de todos os teus inimigos; também o Senhor te faz saber que te fará casa.
Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, o qual sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino.
Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre.
Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de homens.
Mas a minha benignidade não se apartará dele; como a tirei de Saul, a quem tirei de diante de ti.
Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre.
Conforme a todas estas palavras, e conforme a toda esta visão, assim falou Natã a David. (2 Sm 7, 1-17)
Ao reflectir sobre este texto, não pude deixar de ir parar a uma outra vez com que me cruzei com ele, num Retiro.
Na altura, o Zé partilhou aqui assim:
"No último fim-de-semana, descobri um Deus que não quer templos para viver. Não gosta de ficar fechado numa casa construída pelas nossas mãos, preferindo caminhar connosco, de mochila e tenda às costas para se fazer sempre presente. Assm, "The Backpacker" tornou-se na sua nova alcunha. :-)"
Retirado de: http://gritabemalto.blogs.sapo.pt/45116.html
Juntando tudo, encontrei uma boa forma de recordar que, quando nós já nos instalamos, já nos sentimos tranquilos, preguiçosos e barrigudos, Deus continua irrequieto e criativo. Sim, Deus continua de mochila às costas, pronto para a partida. Não é só o "mochileiro", é também o último caminheiro.
Só que, quando nos dizemos imagem e semelhança de Deus, estamos a dizer coisas visíveis e palpáveis. Levamos em nós este desejo de partir, esta vontade de estar a caminho. Muitas vezes, de estar fisicamente a caminho, como quem põe os pés a ensinar o coração que estar sempre igual, sempre "no mesmo sítio" não pode ser.
Andava eu "por aqui"quando, ontem à noite, comecei a ler um livro que comprei "por acaso". Fui às Letras na Avenida, à Livraria Fundamentos, comprar dois livros previamente selecionados. Depois, olhei e vi o "Imersos em Deus" de Timothy Radcliffe. Quis comprá-lo, mas o livreiro aconselhou que começasse do início, do primeiro livro da trilogia ("Ser cristão para quê?").
Assim fiz e não é que encontrei uma passagem mesmo a jeito sobre esta nossa sede de caminho?
A passagem completa é mais extensa, mas fica aqui só um bocadinho, que me parece que chega para mastigarmos e saborearmos:
"Devemos estimar e estimular a ânsia de peregrino que há em todo o ser humano. É a expressão de, pelo menos, uma esperança implícita. O teólogo franco do século IX, Pascásio Radberto, disse: «O desespero não tem pés para andar o caminho que é Cristo». Somos como pássaros ansiando por migrar quando chega a Primavera ou como salmões movidos pela profunda necessidade de nadar contra a corrente, rio acima, e voltar à origem. É certamente por isso que histórias como O Senhor dos Anéis fascinam tanta gente. Tocam em certa forma profunda de partir à aventura, como Bilbo, irrequieto e incapaz de assentar. Temos de caminhar com as pessoas, como Jesus fez com os discípulos até Emaús, mesmo que, às vezes, como esses discípulos, nos pareçam partir na direcção errada."
Vivemos tempos de desesperança, de gente que acredita que não valem a pena pequenos grandes esforços, porque tudo vai mal.
Como discípulos de Jesus, estamos convidados a VER e ANUNCIAR a Esperança.
É certo que ainda não deixamos que Deus esteja em todo o lado, ainda Lhe fechamos muitas portas, ainda O pomos fora de muitas dimensões da nossa vida...
... mas ainda há coisas boas, sabiam?
Às vezes estamos tão preocupados com o que não deveríamos estar..
celebrar aqui... ao entardecer
quaresma 2014 - caminhada de oração
semanário do 1.º volume (2013/2014)