"Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. Debruçando-se, VIU as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e VIU as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro. VIU e acreditou." (Jo 20, 3-8)
E a mim, hoje, o que me chama a VER?
Estação XIII – Jesus é descido da cruz
Tudo acabou.
Aqueles que estavam por perto a gozar o meu Mestre, já foram embora.
Restam os fiéis.
Neste tempo de silêncio, sinto-me vazia.
A Esperança já morreu.
Que fazemos agora?
Estação XIV – Jesus é sepultado
José de Arimateia pediu o corpo do Mestre.
É engraçado que ele, cuja fé esteve sempre oculta, por medo de outros bem colocados como ele, agora, tenha a coragem de pedir o corpo de um proscrito, de um condenado, para o sepultar.
Com ele, vem também Nicodemos, outro que vivia a sua Fé às escondidas.
Nós, as mulheres que acompanhámos Jesus da Galileia ao Calvário, preparámos o Seu corpo para a sepultura.
Depois, havemos de vir cá completar os rituais.
Mas, será que o Mestre quer que fiquemos só a cuidar do que sobra Dele? Ele que viveu só para os outros?
Agora que nos sentimos ovelhas sem Pastor, a quem iremos? O que faremos? Como manteremos vivo o Reino que Jesus sempre disse que já estava entre nós? Como permaneceremos?
Estação XI – Jesus é pregado na cruz
Fecho os olhos! Tapo os ouvidos! Volto a querer sair daqui a correr, mas permaneço!
Estação XII – Jesus morre na cruz
Eu e mais algumas mulheres estamos cá.
Ouvimos o Mestre num grito de dor, perguntar ao Pai porque O abandonou, para, logo a seguir, se entregar inteiro ao Pai, se passar inteiro para Ele.
Sim, a Sua Vida tinha sido uma permanente passagem para o Pai. Já só faltava mais um bocadinho e esse foi no seu último suspiro.
Estação IX – Jesus cai pela terceira vez
Ainda agora estava a dizer que o lugar dos filhos de Deus não é no chão, mas a Caminho e eis que o meu Mestre volta a cair.
Sinto-me impotente!
Volto a querer voltar costas, mas não consigo!
Estação X – Jesus é despojado das suas vestes
Adão, quando percebeu que as suas maldades estavam a nu, tapou-se, escondeu-se de Deus.
Tu, porém, nunca tiveste nada para esconder.
A tua vida foi límpida e visível a todos!
Podem pôr o Teu corpo à mostra, mas não quem és! Esse esteve sempre à vista, para quem quis ver!
Estação VII – Jesus cai pela segunda vez
Ainda agora dizia que ia com Ele até ao fim, que não O queria abandonar e, agora, apetece-me sair a correr morro abaixo.
Não quero ver o meu Mestre cair nem mais uma vez! Não quero continuar a ver este sofrimento.
Quero ir-me embora e esquecer este dia, mesmo que, para isso, tenha de O esquecer também. Sim, nem que tenha de esquecer tudo o que vivemos, a forma como me fez renascer, a forma como o meu coração ardia enquanto anunciava o Reino!
Prefiro esquecer até o bom, se isso for necessário para não ver tudo isto!
Ui, o que estou eu a dizer? Não, vou com o meu Mestre até ao fim.
Estação VIII – Jesus fala às mulheres de Jerusalém
Jesus vira-se para nós e diz-nos para não chorarmos por Ele, mas por nós e pelos nossos filhos.
Sim, Ele foi dono da Sua própria Vida, ou melhor, escolheu o Dono para Si Mesmo: um Dono Justo e Bom, o Seu Pai. Sim, está a ser fiel até à morte ao Projecto do Pai, ao Projecto pelo qual se apaixonou. Fiel até à morte e morte de cruz! Podemos achar que o caminho O levou longe de mais, mas não, foi Ele mesmo que se fez Caminho, Verdade e Vida.
E nós? E os nossos filhos? Seremos capazes de decidir por nós, por optar pela Vontade do Pai, custe o que custar? Vivemos a vida ou é ela que nos vive a nós?
Devíamos chorar por nós, pelas nossas fragilidades. Sim, o tempo suficiente para nos pormos no nosso devido lugar! Depois, ala que se faz tarde. Os filhos de Deus não nasceram para estar prostrados, mas a caminho.
Estação V – Jesus é ajudado pelo Cireneu a carregar a cruz
O meu coração alegra-se por haver alguém a ajudar o meu Mestre.
Depois, já nem sei se se alegra. Se o meu Mestre não aguentasse mais, podia terminar aqui o sofrimento. Antes dos pregos, antes da longa agonia…
Não arranjaram quem O ajudasse por Misericórdia. Eles sabem lá o que é Misericórdia, aquela Misericórdia que o meu Mestre pregava, como daquele Pai que saiu a correr a caminho do filho que se perdera na Vida…
Quem me dera que me deixassem ser eu a ajudá-lo a carregar a cruz. Poder servi-lo como sempre. Só que não posso. Nunca me deixariam aproximar!
Queria partilhar a Sua cruz, como partilhámos os momentos de vida. Se não posso, ao menos, vou manter-me aqui, bem perto.
Quando isto acabar, hei-de descobrir formas de servir o Projecto de Deus, que Ele anunciou e em que continuo a acreditar.
Estação VI – Verónica enxuga o rosto de Jesus
Uma de nós conseguiu chegar mais perto, conseguiu enxugar o rosto de Jesus.
Que este pequeno gesto possa servir para Lhe mostrar que ainda estamos aqui, que não o abandonámos, como tantos, bem mais fortes do que nós, que se dizem os mais próximos do Mestre! Bem, não é hora de julgamentos, que o Mestre, se me ouvisse, não ia gostar!
Só posso falar por mim: eu vou Contigo até ao fim, ainda que não possa fazer nada por Ti.
Estação III – Jesus cai pela primeira vez
Ele que nos quis de pé, está agora ajoelhado e todos escarnecem dele.
Quero ir lá, pô-lo de pé, mas empurram-me.
Por ser mulher, pelo menos, é só um empurrão. Ninguém acredita que eu possa fazer mais do que aproximar-me. Eu não poderia libertá-lo, dizem-me os seus olhares de desdém, por isso, nem chego a ser um perigo.
Estação IV – Jesus encontra Sua mãe
Eu estou com Maria. Não sei o que dói mais: a dor do meu Mestre, a dor da Sua Mãe ou a minha própria dor.
Não posso deixar de me admirar com a força de Maria. Que mãe é esta, que não se revolta com o Seu Filho, por não se ter desdito para se salvar, mas ama tanto a Vontade de Deus que acredita que ser Fiel é mais importante do que salvar a própria vida?
Eu bem vejo o seu sofrimento, mas também a sua determinação.
Só uma mulher assim podia ter dado à luz o meu Mestre.
Ontem, faltou dizer que, durante a Via Sacra, fomos repetindo sempre a mesma música, como quem deixa que ela o toque e o molde:
Quem tiver ouvidos para ouvir
Ganhará olhos para ver.
A Palavra vem, Sua tenda nos alarga.
Haja Silêncio em nós.
Quanto às estações, começamos assim:
Estação I – Jesus é condenado à morte
Ouço Pilatos perguntar quem querem que lhes solte e penso que vão todos gritar que querem ver Jesus livre. Estou pronta a gritar a plenos pulmões, mas sou atordoada por um “Soltem Barrabás!”.
Que mundo é este em que Jesus, que nos libertou de tantos medos e angústias, que nos fez ficar de pé tantas vezes, é crucificado, porque a multidão prefere um criminoso à solta?
Apetece-me fugir, mas Ele ensinou-me a ser fiel. Não sei para o que me servirá ser fiel agora, se não o posso libertar, mas vou com Ele até ao fim.
Ele ensinou-me que a Fidelidade é um caminho. Não vou desistir, porque Ele nunca O faria. É por isso mesmo que está aqui agora…
Estação II – Colocam a cruz aos ombros de Jesus
Não quero ver! Não quero ver aquela cruz aos ombros do meu Mestre! Não quero ver vergado aquele que sempre se esforçou por nos pôr de pé. Até a nós, mulheres, habituadas a quase não sermos gente. Primeiro, propriedade de nossos pais. Depois, dos nossos maridos.
Para Jesus, filhas muito amadas do Seu e Nosso Pai.
Ele que nos quis de pé, a ser agora vergado pela cruz!
À semelhança dos últimos anos, na Semana Santa que amanhã começa, vai ser partilhada aqui a Via Sacra que hoje fizemos.
Como preparação, hoje, fica aqui a Introdução.
Se os gestos da nossa Fé não tocarem a nossa carne como ferro em brasa, é porque deixamos de lhes prestar atenção, de os ver como sinais de uma realidade maior. É porque esquecemos que Jesus, a quem chamamos de Ressuscitado, continua a ser o mesmo que foi na História, que continua a pôr-nos em causa, a abalar-nos, a desafiar-nos. A nossa Fé não é morta, porque é Fé num Ressuscitado. Que comeu, dormiu, teve medo, chorou, sofreu e teve amigos, gente que partilhou com Ele a Vida e que sofreu com a Sua Morte sem triunfo e sem glória, com a Sua Morte cheia de sofrimento. Entre eles, mulheres, que o serviram desde a Galileia, que o acompanharam até ao Calvário, que depois o viram já transfigurado, já Ressuscitado.
Hoje, a nossa proposta é vivermos a nossa Via Sacra no lugar de uma dessas mulheres, com toda a força desse momento. Como se chamava? Não importa, podia ser qualquer um de nós, independentemente do género, da nacionalidade, da raça,… Qualquer um de nós, a quem estivessem prestes a matar simultaneamente um Amigo, um Líder e a pessoa mais especial que jamais conhecera. Hoje, queremos fazer a Via Sacra como alguém dividido entre a Amargura, a Raiva, a Impotência, o Desejo de Fidelidade e uma Força inexplicável que o faz PERMANECER.
Graças quero dar-Te por me amares.
Graças quero dar-Te, eu a Ti, Senhor.
Hoje sou feliz porque Te conheci,
graças por me amares a mim também.
Eu quero ser, Jesus amado
como o barro nas mãos do oleiro
Molda-me a vida, faz-me de novo
Eu quero ser, Eu quero ser
Um vaso novo
Da Primeira Carta aos Tessalonicenses
Alegrai-vos sempre.
Orai sem cessar.
Em tudo dar graças, pois esta é a vontade de Deus para vós em Cristo Jesus.
Não apagueis o Espírito.
Não trateis com desprezo as profecias, mas ponde à prova todas as coisas e ficai com o que é bom.
Afastai-vos de toda a forma de mal. (1 Tes 5, 16-22)
“Deus Santo que sois três pessoas em perfeita comunhão amorosa.
O Universo fala-nos do vosso amor e do vosso poder criador.
Como as outras criaturas não vos podem louvar, nós queremos emprestar-lhes a nossa voz, a fim de vos louvar por elas:
Glória a Vós, Deus Santo, que nos chamastes à vida.
Glória a Vós que nos destes a Natureza como um livro cheio de ensinamentos.
Glória a Vós que nos revelais de tantos modos as vossas perfeições infinitas.
Glória a Vós que Sois Amor e que marcastes a Criação com o selo da Bondade.
Glória a Vós que nos concedeis tantos momentos de alegria.
Glória a Vós que nos proporcionais experiências magníficas de felicidade.
Glória a Vós que nos capacitais para transformarmos os nossos sofrimentos
em mediações de crescimento espiritual, ajudando-nos a compreender os que sofrem.
Glória a Vós pelas montanhas que nos convidam a olhar
o Céu azul e a multidão incontável das estrelas.
Glória a Vós pelos mares e os lagos
que reflectem a luz brilhante do sol e o azul suave do Céu.
Glória a Vós pelos rios que vão regando a terra,
tornando-a mais generosa e fecunda.
Glória a Vós pelos animais selvagens cuja ternura pelos filhotes é admirável.
Glória a Vós pelos pais muitos dos quais
são capazes de dar o melhor de si pelos filhos.
Glória a Vós pelo canto harmonioso das aves
e os rugidos, os uivos e os balidos dos animais.
Glória a Vós pelas mães e pela sua capacidade inesgotável de comunicar ternura.
Glória a Vós que amorosamente nos revelastes o vosso rosto
como uma comunhão amorosa do Pai com o Filho e com o Espírito Santo.
Glória a Vós pelo mistério da Encarnação
através do qual o divino se enxertou no humano,
a fim de nós sermos membros da Família Divina.
Glória a Vós pela Grandiosa Festa da Vida
na qual tomam parte as plantas, os animais e os seres humanos.
Glória a Vós que sonhastes para o Homem um plano de amor admirável
fazendo coincidir a perfeição humana com a comunhão divina.
Glória a Vós pelo perfume das violetas, dos lírios e das rosas.
Glória a Deus pela multidão dos peixes que habitam os mares, os rios e os lagos.
Glória a Vós pelo sabor delicioso dos frutos e pela doçura do mel
que as abelhas produzem de modo totalmente gratuito.
Glória a Deus por tantas pessoas que, ao longo da nossa vida nos sorriram,
capacitando-nos para sorrir e amar.
Glória a Vós pela força do Espírito Santo que nos capacita
para fazermos o bem aos outros, facilitando a sua realização e felicidade.
Glória a Vós pela vida eterna que o Espírito Santo
faz crescer e germinar no nosso coração.
Glória a Vós pela luz do sol que todas as manhãs
faz emergir a multidão das cores e das formas que nos encantam.
Glória a Deus pelo carinho das pessoas que nos amaram,
capacitando-nos para amar.
Glória a Vós que revelastes a vossa ternura
através da ternura das pessoas que nos fizeram bem.
Glória a Vós pela força da ressurreição de Cristo
que nos concede a vitória sobre a morte.
Glória a Vós pelo poder criador do Espírito Santo que, no nosso íntimo,
nos vai recriando e configurando com Cristo ressuscitado.
Glória a Vós pelas crianças cuja transparência nos convida a ser verdadeiros.
Glória a Vós por nos terdes colocado nesta terra cheia de cores,
chilreios, grunhidos e declarações de amor.
Glória a Vós pelas noites serenas que nos convidam à paz e ao descanso.
Glória a Vós pela alegria que nasce no coração
dos que se deixam conduzir pela sabedoria do Espírito Santo.
Glória a Vós pelos homens e mulheres que lutam pela justiça e os direitos humanos
que são os pilares sólidos da paz.
Glória a Vós pelas pessoas que têm o dom de fazer os outros felizes.
Glória a Vós cuja morada é um campo espiritual contínuo
de interacções amorosas, o qual se situa na interioridade máxima do Universo.
Glória a Vós que vindes ao nosso encontro sempre a partir de dentro.
Glória a Vós que em cada dia nos fazeis sentir
os efeitos benéficos da vossa presença no nosso coração.
Glória a Vós que ao criar-nos à vossa imagem e semelhança,
vos tornastes a meta para a qual estamos a caminhar.
Glória a Vós que nos criastes inacabados,
a fim de nos podermos realizar como pessoas livres, conscientes e responsáveis.
Glória a Vós cujo amor providencial nos protegeu em tantos momentos de perigo.
Glória a Vós pelo modo como a vossa revelação nos faz compreender
o sentido da vida, da História e do Universo.
Glória a Vós pela Nova e Eterna Aliança que fizestes connosco em Jesus Cristo.
Glória a Vós pelo Espírito Santo que é a Água Viva
e que faz brotar em nós uma fonte de Vida Eterna.
Glória a Vós que nos acolheis como membros da vossa Família.
Glória a Vós, Trindade Santíssima, pelo vosso projecto de salvação
em favor de todos os seres humanos."
Calmeiro Matias
Obrigado
Por este dia que passou
Pelos passos pelos voos
E pela vida que há em mim
Obrigado
Por essa força ao olhar
Por essa chama que me queima
E pela vida que há em mim
Obrigado
Por essa voz que em mim habita
Por essa mão que necessita
De outra mão que saiba amar e ser feliz
Obrigado
Pela estrada percorrido
Pelos exemplos que dão vida
Obrigado pelos dons que recebi
Obrigado
Pela amizade e confiança
Pela saudade e a lembrança
De tudo aquilo que nos marcou
Obrigado
Pela presença que não passa
Pela esperança que abraça
E pelo amor que em nós ficou
celebrar aqui... ao entardecer
quaresma 2014 - caminhada de oração
semanário do 1.º volume (2013/2014)