Hoje, a Luísa convidou-nos a ver um filme. Creio que se chama "O caminho de um guerreiro pacífico". Se não for bem este o nome, a ideia é parecida. Se há coisa que é comum em mim é mudar os nomes de livros, de filmes e até de pessoas para outros que me soam similares.
No fim, a conversarmos um pouquinho entre nós, acabámos por dizer que, apesar de não ter nada a ver com os evangelhos, aquele filme podia ser para nós Evangelho, no sentido em que era Boa Nova.
O que tem ele de especial? Primeiro, o facto de ser baseado em factos reais. Assim, é-nos muito mais fácil acreditarmos que também nós somos mais do que as nossas circunstâncias. O ser humano foi criado com capacidades que teimamos em desconhecer e desaproveitar. Depois, queria sublinhar a importância de olharmos para dentro, de nos conhecermos, de nos amarmos. Fez-me lembrar uma imagem do livro um "Deus chamado Abba", que, um dia destes, hei-de partilhar por aqui.
No entanto, não foram, apesar de tudo, essas as mensagens que mais me tocaram. Ressoa, bem cá dentro, uma frase especial: "Aqueles que mais te custar amar são aqueles que mais precisam do teu amor." Lembrei-me de um livro que li há bem pouco tempo e que me marcou. Chama-se "A criança que não queria falar" e aconselho-o vivamente. Lembrei- -me de Jesus e da Sua presença constante entre os anawin (aqueles que estão encurvados pela carga que a vida vai colocando nas suas costas). Vi-O colocar-se do seu lado, não só na Palestina de há 2000 anos, mas hoje, aqui e agora. Afinal, Deus ressuscitou-O e Ele continua a fazer história connosco. Lembrei-me de episódios da minha vida em que o meu amor também vai sendo dirigido preferencialmente para aqueles que não têm muitas mais hipóteses de serem amados. Como eu gostava que essa tónica fosse a constante na minha vida! Sinto que, aos pouquinhos, o desejo há-de se tornar realidade.
Fica também aquela sensação de que, quando já se recebeu muito, tem de se dar. Aquele que já foi servido, sente que tem de servir. Algo ao estilo do que são Paulo dizia com a frase "Ai de mim se não Evangelizar." Há "coisas" que são demasiado boas para as guardarmos só para nós. Há "coisas" que se tornam bem melhores e bem maiores, quando as partilhamos. A forma como o fazemos depende de quem somos, dos talentos que possuimos, daquilo que já fomos construindo. Lembrei-me de um professor que tive e que dizia que, muitas vezes, tinha olhado para o curso dele (que por acaso é o mesmo que estou quase a terminar) e pensado que era socialmente bastante inútil. Também eu me deparo, muitas vezes, com essa questão. Como posso dar a Deus e aos irmãos algo de bom a partir da minha formação em Economia? Se eu fosse médica, enfermeira, professora, psicóloga e um sem número de outras coisas, imagino que saberia melhor como o fazer. No entanto, tenho a certeza que, daquilo que sou, daquilo que amo, daquilo para que me preparei, Deus há-de tirar algo de útil, de específico, de doável. Essa certeza dá-me um pouco de paz, embora não de tranquilidade, porque me obriga a estar atenta, bem atenta aos pequenos sinais.
Por falar em pequenos sinais, outra mensagem espantosa que fica é: vive cada instante com toda a intensidade, olha para cada pormenor do caminho, não te preocupes demasiado em chegar. Busca o prazer do caminho, porque o destino lá estará e dependerá do caminho que tiveres feito ou, dito de outra forma, que tiveres vivido. Tenho a certeza de que qualquer um de nós desconfiaria de alguém que se queixasse 1001 vezes do caminho que tinha de percorrer para ir a um determinado lugar, dizendo-nos ao mesmo tempo que o destino até era bonzinho. Então, o que faz com que vivamos espartilhados pela necessidade de cumprir objectivos, que nunca devemos esquecer que têm de ter certas características, obedecer à tal sigla SMART, sem nos preocuparmos em sermos felizes no caminho que percorremos. Fará isso sentido? Se o caminho não nos dá prazer, que destino pode ser importante?
celebrar aqui... ao entardecer
quaresma 2014 - caminhada de oração
semanário do 1.º volume (2013/2014)